O
mediador de leitura, o elo entre o leitor e o texto, deve ater-se
como
em um
intermediar, um existir entre, onde permite que a interpretação
flua, pois o leitor deve desbravar as veredas do texto até o
horizonte de significações possíveis. Não como um condutor, pois
ele não leva o leitor ao significado, dito de outra forma, não há
significado estático, único e exclusivo (ADOLFO, 2007, p.29).
O
resultado da procura é a compreensão integral do objeto estético.
Bordini e Aguiar (1993, p.87) argumentam que, para isso, quanto mais
o texto se torna distante do que é esperado, pelo hábito, altera os
limites desse horizonte ampliando-o e “isso ocorre porque novas
possibilidades de viver e de se expressar foram aceitas e
acrescentadas às possibilidades de experiência do sujeito.”
Pois,
“ler
é descobrir e redescobrir o mundo re-criado pelo artista” (ADOLFO,
2007, p.29), logo, o leitor já deve ter um estoque simbólico para
construir uma representação do mundo do escritor. Ficando assim
estipulado, então, no processo de leitura do texto, lê-se também o
autor e o seu tempo com seus conflitos internos, seus embates,
dúvidas e convicções (ADOLFO, 2007, p.26).
Assim
como
para
Bordini e Aguiar (1993, p.10), esse acesso aos mais variados textos,
permite a “ampliação do conhecimento que daí decorre permite-lhe
compreender melhor o presente e seu papel como sujeito histórico”,
tendo como resultado uma “tessitura de um universo de informações
sobre a humanidade e o mundo que gera vínculos entre o leitor e os
outros homens”.
Cabe
ao mediador fazer com que o leitor veja o mundo lapidado pelo autor,
e fazer com que tal mundo, emerja até a percepção do leitor sobre
seu próprio mundo com pistas acerca do contexto da obra, que
preencham as lacunas do conhecimento prévio do leitor, nas palavras
de Silveira (2014, p.7), “o mediador de leitura não ministra
competências de leitura, ele reforça-as.”
Miller
(1995, p.86) esboça três preceitos para uma ética da leitura, das
quais duas primeiras são sobre a obra e o profissional e terceira
sobre tradução e a possibilidade de ler os originais, após
fomentar a dúvida na traduções sugere: “se temos a esperança de
descobrir de que se trata devemos nós mesmos ler o livro, no
original” (MILLER, 1995, p.88). Discussão importante atestado pelo
provérbio italiano traduttore
tradittore (algo
como, o tradutor é um traidor), mas vai além do que aqui é
proposto, ainda
mais, levando em consideração que o Brasil não tem na sua cultura
a característica de ser um país bilíngue e, um curso de idiomas
particular ainda ser algo, além da realidade econômica de muitos.
A
primeira, a ética para obra literária, resulta no momento da
escolha da obra, o autor sugere uma fidelidade com a significação
da obra, um respeito “à exigência das palavras na página” e
não atribuí-la o qualquer significado que se queira. A segunda
centrada na filologia e pelo estudos da linguagem, o autor salienta a
necessidade de haver um “amor pela linguagem”, etimologia grega
para filologia, atendo-se a um “cuidado com a linguagem e com o que
a linguagem pode fazer.” Com isso, o ensino da “boa leitura”
implica na “boa escrita”, configurando assim, na “base no que
seja linguagem e no que ela pode fazer” e o que é capaz de ser
feito ou não com ela, que permitirá a reflexão da literatura “na
moralidade social e individual, na história e na execução da
política pública” (MILLER, 1995, p.87).
O
profissional da informação, como mediador, não deve “apenas
fazer circular textos de leitura, pelo contrário, o bibliotecário
deve ser cúmplice efetivo e afetivo do leitor, se dispondo a
discutir e trocar idéias a respeito do que lê” (ALMEIDA JÚNIOR;
BORTOLIN, 2008, p.72). Não de forma autoritária, como afirma Yalom
(2009, p.191), ao conceituar a terapia “como um processo de
crescimento e esclarecimento pessoais, considerando que o recurso à
autoridade é contraproducente”, com base na transparência
afetiva, na relação entre ambos, criando um vínculo sincero.
“Portanto, os mediadores interessados em uma mediação eficiente,
devem ser empáticos; para que posicionados no lugar do outro
(leitor), possam percebê-lo com maior nitidez” (ALMEIDA JÚNIOR;
BORTOLIN, 2008, p.72).
Referências
ADOLFO,
Sérgio Paulo. Literatura e visão de mundo. In: REZENDE, Lucinea
Aparecida (Org.). Leitura
e visão de mundo:
peças de um quebra-cabeça. Londrina: Eduel, 2007. p. 23-36
ALMEIDA
JÚNIOR, Oswaldo Francisco de; BORTOLIN, Sueli. Mediação da
informação e da leitura. In: SILVA, Terezinha Elisabeth da (Org.).
Interdisciplinaridade
e Transversalidade em Ciência da Informação.
Recife: Néctar, 2008. p. 67-85.
BORDINI,
Maria da Glória; AGUIAR,
Vera Teixeira. Literatura:
a formação do leitor
(alternativas metodológicas). 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1993.
MILLER,
Joseph Hillis. A
ética da leitura:
ensaios 1979-1989. Rio de Janeiro: Imago, 1995.
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