terça-feira, 11 de novembro de 2014

O bibliotecário como mediador de leitura


O mediador de leitura, o elo entre o leitor e o texto, deve ater-se como em um intermediar, um existir entre, onde permite que a interpretação flua, pois o leitor deve desbravar as veredas do texto até o horizonte de significações possíveis. Não como um condutor, pois ele não leva o leitor ao significado, dito de outra forma, não há significado estático, único e exclusivo (ADOLFO, 2007, p.29).
O resultado da procura é a compreensão integral do objeto estético. Bordini e Aguiar (1993, p.87) argumentam que, para isso, quanto mais o texto se torna distante do que é esperado, pelo hábito, altera os limites desse horizonte ampliando-o e “isso ocorre porque novas possibilidades de viver e de se expressar foram aceitas e acrescentadas às possibilidades de experiência do sujeito.”
Pois, “ler é descobrir e redescobrir o mundo re-criado pelo artista” (ADOLFO, 2007, p.29), logo, o leitor já deve ter um estoque simbólico para construir uma representação do mundo do escritor. Ficando assim estipulado, então, no processo de leitura do texto, lê-se também o autor e o seu tempo com seus conflitos internos, seus embates, dúvidas e convicções (ADOLFO, 2007, p.26).
Assim como para Bordini e Aguiar (1993, p.10), esse acesso aos mais variados textos, permite a “ampliação do conhecimento que daí decorre permite-lhe compreender melhor o presente e seu papel como sujeito histórico”, tendo como resultado uma “tessitura de um universo de informações sobre a humanidade e o mundo que gera vínculos entre o leitor e os outros homens”.
Cabe ao mediador fazer com que o leitor veja o mundo lapidado pelo autor, e fazer com que tal mundo, emerja até a percepção do leitor sobre seu próprio mundo com pistas acerca do contexto da obra, que preencham as lacunas do conhecimento prévio do leitor, nas palavras de Silveira (2014, p.7), “o mediador de leitura não ministra competências de leitura, ele reforça-as.”
Miller (1995, p.86) esboça três preceitos para uma ética da leitura, das quais duas primeiras são sobre a obra e o profissional e terceira sobre tradução e a possibilidade de ler os originais, após fomentar a dúvida na traduções sugere: “se temos a esperança de descobrir de que se trata devemos nós mesmos ler o livro, no original” (MILLER, 1995, p.88). Discussão importante atestado pelo provérbio italiano traduttore tradittore (algo como, o tradutor é um traidor), mas vai além do que aqui é proposto, ainda mais, levando em consideração que o Brasil não tem na sua cultura a característica de ser um país bilíngue e, um curso de idiomas particular ainda ser algo, além da realidade econômica de muitos.
A primeira, a ética para obra literária, resulta no momento da escolha da obra, o autor sugere uma fidelidade com a significação da obra, um respeito “à exigência das palavras na página” e não atribuí-la o qualquer significado que se queira. A segunda centrada na filologia e pelo estudos da linguagem, o autor salienta a necessidade de haver um “amor pela linguagem”, etimologia grega para filologia, atendo-se a um “cuidado com a linguagem e com o que a linguagem pode fazer.” Com isso, o ensino da “boa leitura” implica na “boa escrita”, configurando assim, na “base no que seja linguagem e no que ela pode fazer” e o que é capaz de ser feito ou não com ela, que permitirá a reflexão da literatura “na moralidade social e individual, na história e na execução da política pública” (MILLER, 1995, p.87).  
O profissional da informação, como mediador, não deve “apenas fazer circular textos de leitura, pelo contrário, o bibliotecário deve ser cúmplice efetivo e afetivo do leitor, se dispondo a discutir e trocar idéias a respeito do que lê” (ALMEIDA JÚNIOR; BORTOLIN, 2008, p.72). Não de forma autoritária, como afirma Yalom (2009, p.191), ao conceituar a terapia “como um processo de crescimento e esclarecimento pessoais, considerando que o recurso à autoridade é contraproducente”, com base na transparência afetiva, na relação entre ambos, criando um vínculo sincero. “Portanto, os mediadores interessados em uma mediação eficiente, devem ser empáticos; para que posicionados no lugar do outro (leitor), possam percebê-lo com maior nitidez” (ALMEIDA JÚNIOR; BORTOLIN, 2008, p.72). 

Referências
ADOLFO, Sérgio Paulo. Literatura e visão de mundo. In: REZENDE, Lucinea Aparecida (Org.). Leitura e visão de mundo: peças de um quebra-cabeça. Londrina: Eduel, 2007. p. 23-36

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de; BORTOLIN, Sueli. Mediação da informação e da leitura. In: SILVA, Terezinha Elisabeth da (Org.). Interdisciplinaridade e Transversalidade em Ciência da Informação. Recife: Néctar, 2008. p. 67-85.
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura: a formação do leitor (alternativas metodológicas). 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
MILLER, Joseph Hillis. A ética da leitura: ensaios 1979-1989. Rio de Janeiro: Imago, 1995.

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