Desde tempos remotos, a literatura, na forma de mitos, era utilizada com finalidades curativas, isso é, para resolver angústias e outros problemas na esfera da psique/alma. "Durante séculos os seres humanos usaram mitos, contos de fadas e o folclore para explicar os mistérios da vida e torná-los suportáveis - desde por que as estações mudam até o enigma da morte, passando por complexas questões de relacionamento" (GREENE; SHARMAN-BURKE, 2001, p.9). Dentro desses contos, mitos e fábulas estão reunidos símbolos de sabedoria "que durante séculos se recusaram a se deixar mutilar, desgastar ou matar" (ESTÉS, 2005, p.11). Segundo a Drª Clarissa Pinkola Estés (2005, p.11), os contos são eternos, pois sobrevivem a massacres, opressões políticas, ascensão e queda de civilizações, etc. Devido o fato dos seres humanos sentem-se atraídos pelos contos místicos. Pois, os símbolos neles contidos retratam complexos, "centros de energia construídos em torno de um cerne de significado afetivo" (KAST, 2013, p.47) e tem em como cerne os arquétipos (KAST, 2013, p.136), que "são, por assim dizer, expressão da 'natureza humana', do ser humano" (KAST, 2013, p.137).
Muitas vezes é o pensamento linear e racional, não permite que se alcance o cerne da questão e os contos (e mitos) estão aí com "uma misteriosa capacidade de conter e transmitir paradoxos, permitindo-nos enxergar, em volta e acima do dilema,o verdadeiro cerne da questão" (GREENE; SHARMAN-BURKE, 2001, p.9). Nas palavras de Kast (2013, p.48), "os complexos se tornam visíveis nos símbolos, por meio de fantasias". "Um conto convida a psique a sonhar com alguma coisa que lhe parece familiar", mas são conceitos de origens distantes no tempo, que ao mergulhar no conto revisam seus significados, os "conselhos metafóricos sobre a vida da alma" (ESTÉS, 2005, p.12-3).
Em suma, é na projeção dos significados emocionais, veiculados pelos símbolos, que o leitor pode trazer a consciência seus complexos, e vendo no outro (no conto, no mito e/ou na literatura) é que ele poderá se ver e aprender a se relacionar com suas angústias em um movimento de integração das características inconscientes ao eu, o tornando assim, emancipado das angústias e dos atos inconscientes carregados de emoções mal assimiladas.
Referências ESTÉS, Clarissa Pinkola, Contos dos irmãos Grimm. Rio de janeiro: Rocco, 2005.
GREENE, Liz; SHARMAN-BURKE, Juliet. Uma viagem através dos mitos: o siginificado dos mitos como um guia para a vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
KAST, Verena. A dinâmica dos símbolos: fundamentos da psicoterapia junguiana. Rio de Janeiro: Vozes, 2013.
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